Sociedade é igual a casamento: no início as expectativas e o entusiasmo são enormes, mas no fim pode acabar na mão de um advogado. Se você anda conversando com um amigo sobre montar um negócio juntos, leia algumas considerações que você precisa ter.
Há alguns anos, soube de uma conhecida que fazia bolos e tinha seu negócio em sua casa. Soube então que abriria uma loja com uma sócia. Houve preparativos, mudança de nome, local alugado, enfim, tudo perfeito e pronto para o dia da inauguração. Não houve inauguração. Os desentendimentos aconteceram antes, mas enquanto isso houve investimento e prejuízo, sendo deles o maior, a assinatura do aluguel da loja por longo prazo. Tente antecipar se isso poderá vir a ser um problema.
Seu sócio não pode fazer exatamente o que você faz
Como foi o caso da designer de bolos, ela se associou a uma pessoa que tinha as mesmas habilidades. As duas tinham ótimas receitas de bolo. Isso gerou conflito na hora de tomar todas as decisões, desde o que vai no logo até nas responsabilidades do dia-a-dia. Seu sócio tem que ser diferente de você, de preferência que um tenha dinheiro e o outro o know-how. Se você for introvertido, seu sócio tem que ser o oposto. Se você não se sentir confortável com contabilidade e finanças, seu sócio precisa ser o oposto.
Seu sócio está passando por problemas familiares
Mau indício! Em caso de divórcio, seu sócio pode precisar vender o negócio para resolver problemas financeiros ou pode ter toda sua energia sugada do negócio e colocada em um procedimento que pode levar tempo e dinheiro. Tudo muda depois de um divórcio litigioso, venda de propriedades, pagamento de pensão (“alimony”), etc.
Você sente que seu sócio delega mas não faz
Uma pessoa sem iniciativa e que não coloca a “mão na massa” é um mau indício. Uma pessoa não precisa trabalhar mais que a outra, mas é preciso desde o início que haja uma entendimento do que cada um fará com seu tempo. Pergunte quanto tempo ou quantas horas por dia seu sócio pretende dedicar à nova sociedade.
Seu radar de honestidade já detectou uma falha
Você pode ter escutado dessa pessoa uma sugestão para fazer algo ilicitamente ou não tão honestamente. Talvez você tenha escutado muito sobre evitar pagar os impostos a funcionários ou sugerir pagar tudo em dinheiro. Você achou que ele é uma pessoa “esperta”, com muitos recursos… não é isso que você tem que pensar! Se essa pessoa se vale de mentiras, “jeitinhos”, desonestidade, porque ela não faria o mesmo com você? Você será uma vítima também … é só uma questão de tempo.
Seu sócio não tem situação legalizada
Peça para ver a evidência e não se sinta mal por isso. Você não pode arriscar ter uma pessoa que pode de um momento a outro, ter que deixar o país. Também tenha muito cuidado em se envolver com uma pessoa que está procurando abrir um negócio para se legalizar. As vezes obter o visto pode ser a única meta.
Pessoa que nunca tem tempo para nada e não gerencia seu tempo
Ótimas ideias são só isso: ideias. Elas precisam ser executadas. No início principalmente há muita satisfação, entusiasmo, mas quando o dia-a-dia começa ou o simples lidar com problemas pode fazer com que as pessoas comecem a largar a ideia de mão. Se essa pessoa não tem o mesmo compromisso que você, isso é um mau sinal.
Seu parceiro não tem noções básicas de finanças
Ele ou ela podem tomar decisões sem lhe consultar que podem danificar o seu negócio. Estabeleça logo no início quem estará à frente de decisões financeiras caso você se encontre em uma situação onde nenhum dos dois se sinta confortável com noções básicas de contabilidade. Não pense que é só contratar um Contador. Um Contador não estará negociando com seu fornecedor diariamente.
Seu parceiro não sabe lidar com dificuldades
Você tem bons exemplos de como essa pessoa lidou com dificuldades no passado? Você já presenciou como ele ou ela respondem a uma insatisfação de clientes? Você sabe como essa pessoa se comprometeu financeiramente para resolver uma dívida de cartão de crédito ou dívida com amigos? Está devendo dinheiro para o IRS? As vezes uma profundeza de caráter é necessária para antecipar futuros problemas.
Seu futuro sócio tem um passado um tanto ou quanto questionável na comunidade
Qual a reputação dessa pessoa na comunidade para a qual você estará servindo? Se o seu negócio atende a comunidade brasileira, essa pessoa tem um histórico idôneo? Se essa pessoa já teve um negócio e o negócio fechou, questione o que houve de errado e o que essa pessoa aprendeu no processo. Se teve empregados, como ela tratou esses empregados no seu negócio anterior? Ter 1000 amigos no Facebook não significa ser uma pessoa conectada e respeitada. Você pode e deve verificar registros públicos e obter o máximo de informação possível. Verifique se essa pessoa é realmente quem diz ser.
Não gosta de colocar as coisas por escrito
“Sou negociante à moda antiga, minha palavra é o que vale”. Huh? Não vivemos mais no passado. Se essa pessoa pensa assim, provavelmente não demandará que façam o mesmo com o seu negócio. Se um dos sócios precisa viajar para o Brasil e precisa ficar lá por 6 meses para cuidar de um familiar, essa pessoa continuará recebendo pelo negócio? Se o sócio ou a sócia não está demonstrando uma performance esperada, como fazer para remover esse sócio sem prejudicar o negócio? Coloque tudo por escrito e isso precisa ser visto como uma proteção ao negócio e não como uma demonstração de desconfiança. Meça quanto o seu sócio se sente confortável ao colocar as coisas por escrito. Quanto mais, melhor!
Ter um sócio é uma ótima vantagem e pode ser benéfico. Você pode dividir responsabilidades, achar quem possa financiar uma ótima ideia, ter uma pessoa a cargo do negócio enquanto você tira férias, complementar uma habilidade que falta, dividir despesas e riscos. Mas isso também pode vir a ser um pesadelo. Faça uma análise extensiva e veja se você pode sobreviver contratando um funcionário ao invés de pensar em sociedade.
Boa sorte!