Saímos do 8 para o 80. 50 anos atrás os filhos não tinham querer, os pais é que comandavam, diziam o que íamos vestir, comer e onde ir. Crianças não tinham vontade própria e tudo isso sem contar com as repressões. Na adolescência então nem se fala, namorar era proibido, beijar na boca nem pensar (afinal o que os vizinhos iriam falar?) Ouvi muito a frase: “filha de Dona Nanhá não pode ser atriz”, nem isso nem aquilo e até mesmo: “minha filha não precisa fazer faculdade, afinal mulheres foram feitas para casar, cuidar dos maridos e filhos… “.
O fato é que sobrevivemos a tudo isso e hoje com certeza somos gratos pela maneira como fomos criados, pois foi essa criação que nos transformou no adulto de bem que somos hoje. Não estou querendo dizer com isso que a educação que tivemos foi a melhor do mundo, mas se tivéssemos peneirado melhor passando aos nossos filhos as coisas boas que nos foram ensinadas, é certo que hoje não estaríamos vendo tantos tiranos dando ordens.
Os anos se passaram, a modernidade chegou e os filhos reprimidos tornaram-se os pais libertadores, ora por não desejarem que seus filhos passassem por tudo o que haviam passado, ora por trabalharem muito e não terem tempo para os filhos, ora por acharem que o caminho certo é o de permitir que seus filhos tenham total liberdade. “O fato é que pais permissivos demais criam filhos tiranos”. Passamos a não poder dizer “não” às nossas crianças, a realizar todos os seus desejos e anseios.
O limite foi banido da educação. Deixar a criança frustrada nem pensar. Criaram o estatuto da criança onde uma simples palmada passou a ser algo extremamente agressor a ponto de levar pais à cadeia. Vale ressaltar que estou me referindo simplesmente a maneira de se educar e não aos abusos de poder e maltratos que sabemos, infelizmente existir em todas as sociedades. Sem limites, sem frustrações, as crianças foram se transformando em príncipes e princesas déspotas, passaram a dar ordens e ver suas vontades sendo prontamente atendidas. Se podem mandar nos pais o que dirá nos professores e colegas? Se podem bater nos pais, podem bater em qualquer um e assim vêm caminhando, tornando-se seres insuportáveis, de difícil convívio. E o que vemos hoje são filhos matando os pais … muito triste!
Segundo Marcia Neder, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Psicanálise e Educação da USP, “vivemos uma ‘pedocracia”, diz, dando nome ao fenômeno das famílias sob o governo das crianças. “Há 50 anos, elas não tinham querer. Agora, mandam.” Os filhos ganharam poder nas ultimas décadas, estamos no ápice da tirania infantil. A falta de limites é a derrota dos pais. A tirania não é um fator genético e sim algo que vai sendo construído nas interações familiares e sociais, por isso podemos mudar o quadro atual.
Precisamos reverter essa situação, considerando um esforço urgente pela retomada do poder adulto e como fazer isso?
Podemos iniciar primeiramente aprendendo a dizer NÃO, colocando limites, permitindo que seus filhos experimentem as frustrações da vida, estabelecendo regras necessárias, fazendo com que a criança reconheça a autoridade adulta, ensinando a respeitar os outros, punindo adequadamente sempre que necessário. Casais, não discutam na frente de seus filhos, nem desautorizem um ao outro. Jamais sejam agressivos uns com os outros, seja por palavras ou ações, dediquem tempo, dêem a atenção necessária. Eu acredito que essas são algumas dicas que poderão ajudar nesse processo de mudança pra melhor.