É verdade eu me lembro sim do número do meu primeiro telefone residencial, mas muitas vezes quando preciso dizer o número do meu celular atual, tenho que parar e pensar alguns instantes. Não vou negar que isso me perturba um pouco. Sei porque isso acontece, e não gosto do motivo.
O motivo pode ser resumido em falta de necessidade de memorizar. Eu não tenho necessidade de memorizar porque posso rapidamente mandar uma mensagem com meu número de celular para outro celular e o que é necessário memorizar neste caso é o nome da pessoa e os comandos que se repetem sempre. Então, ao invés de eu ter que guardar na memória vários números ligados à várias pessoas diferentes, eu apenas tenho que saber o nome das pessoas e os mesmos comandos. Quando estou no carro basta dizer “call fulano” e pronto. Pode parecer bom, mas pode não ser.
O que acontece se eu não usar o meu cérebro? Ele vai ficar cada dia mais limitado no seu uso. Se continuarmos a usar a tecnologia para tudo, vou deixar de usar muito do meu cérebro e depois não adianta reclamar de falta de memória, de desorganização, de solidão, de ansiedade e depressão. Usando a tecnologia para tudo eu não me relaciono com mais nada. Os sons das vozes estão em áudio, as imagens estão em fotos e vídeos, não há mais contato entre as pessoas e os acontecimentos. Nos shows e espetáculos as pessoas fazem vídeo o tempo todo. Estão presentes no evento, mas não assistem ao vivo, filmam. Depois postam na internet para que todos fiquem sabendo que ela esteve lá, presente, ao vivo. Mas a pessoa nem viu direito, estava filmando e vendo através da tela do celular. O que vai restar na memória dessa pessoa?
Não estou aqui tentando fazer uma apologia ao passado, estou apenas dialogando e ponderando o que estamos deixando passar sem perceber. Guardar na memória é ter para sempre e também ter fácil acesso. Não é preciso estar conectado à internet para contar ao seu filho como foi estar no show do Queem em 1982 no Estádio do Morumbi e ver o Freddie Mercury se emocionar com todo mundo cantando Love of My Life. Para contar esse show é preciso apenas lembrar da emoção, da admiração e do som maravilhoso. Inesquecível. Espero que essa palavra não deixe de ter sentido porque foi esquecida.