Já dizia a Rita Lee há mais de 20 anos. Mas, a menstruação continua sendo um assunto pouco conhecido. Esta semana, no entanto, recebi um vídeo da minha filha que me impactou, ou melhor, traduziu em poucas palavras o que já venho tentando explicar há anos. Trata-se de uma moça explicando como se tornou pedagoga menstrual, é muito interessante os “insights” que ela teve.
Tudo começou no seu nascimento quando sua mãe quase morreu por complicações após uma cesariana. Ela perdeu o útero e segundo os médicos, deveria agradecer por ter conseguido ter uma filha. Eles não deram importância aos sentimentos gerados pela perda o útero. Isso parecia ter sido apenas uma história triste naquele momento. Com 17 anos foi ao ginecologista para encontrar uma maneira de evitar a gravidez. Recebeu a notícia que o que havia de mais moderno era a pílula anticoncepcional, o que ela aceitou prontamente, sem saber e sem querer saber as consequências para seu corpo.
Já com 24 anos, lendo matérias sobre gestação, pois desejava engravidar, aprendeu que a mulher tem apenas 6 dias férteis em um mês. E a pergunta que se fez foi: por que a mulher que tem apenas 6 dias férteis por mês, ingere hormônios o mês todo e o homem que é fértil todos os dias do mês não precisa tomar nada? A sensação foi de ter sido enganada e maltratada como sua mãe foi há 24 anos atrás. Aceite o que todos que vivem nesta sociedade aceitam e ponto.
Inconformada com a situação foi estudar para se tornar doula, com o intuito de dar apoio emocional para mulheres grávidas, no parto e na amamentação. Após alguns anos engravidou e mais uma vez passou por uma situação muito ruim, foi quando teve um aborto espontâneo e não recebeu nenhum apoio dos médicos. Não conseguindo mais engravidar resolveu que precisava fazer alguma coisa a respeito.
Por aconselhamento de uma amiga foi estudar o corpo feminino e iniciou anotando todos os dias tudo o que se passava com ela, fisica e mentalmente. Não demorou para descobrir que os acontecimentos se repetiam em um ciclo mensal, não apenas na menstruação. Havia um padrão de comportamento e de respostas durante todo o mês. E por que esse padrão deveria ser mudado ou interrompido pelo uso de medicamentos?
O que venho ensinando nas minhas aulas de fisiologia e para minhas clientes é que a mulher menstrua e engravida. É assim, e isso é natural e normal. Cada uma com sua individualidade e períodos diferentes. Uns com dor, outros sem. Umas precisando de analgésicos e outras não. Mas, definitivamente não precisamos de hormônios durante todo o mês. A frase que essa moça termina o vídeo é no mínimo intrigante. “O problema é a menstruação, ou quem menstrua”? E eu completo, quem está com o sangramento e tendo que lidar com isso? A quem incomoda a menstruação, a gestação e o pós-parto? Incomoda a mulher, o companheiro ou o chefe?