Quando eu estava gorda pensava em comida 24 horas por dia e até sonhava com alimentos. Fazia uma refeição e já pensava no que iria comer depois. Comia até passar mal, não agüentar mais e geralmente escondido, sozinha, sem ninguém por perto.
A cena era lastimável porque eu comia muito rápido, quase sem mastigar, até ver o fim do pacote de bolacha, da caixa de bombons, do pote de sorvete… Aliás, falando nisso, comer sorvete era problema porque eu comprava pote de 2 litros, comia até o meu limite físico, mas acabava sobrando. Como eu comia escondido e não queria que meus familiares soubessem, eu não podia colocar o pote de sorvete na geladeira, conclusão: perdia o sorvete que sobrava. Achava isso uma pena, mas acabava comprando outro depois e fazendo tudo de novo, sempre dizendo pra mim mesma que seria a última vez (doce ilusão).
Para ninguém saber das minhas “farras” comestíveis escondia uma grande variedade de doces, bolachas, salgadinhos e tudo mais debaixo da cama, no guarda-roupa e nas gavetas de meu quarto. Comer era minha válvula de escape, me trazia alívio, era minha companhia, mas também meu algoz. O duro era suportar o arrependimento pós-compulsão alimentar. Anos depois descobri que utilizava a comida também como forma de me punir por situações que havia passado, e não compreendido, e por ter permitido chegar no tamanho que cheguei.
Acreditava que a solução de meus problemas estaria no emagrecimento. Caso eu conseguisse emagrecer, seria muito mais feliz. Olhava pessoas magras na rua, nas revistas e na televisão e acreditava que elas eram felizes por terem o corpo esbelto. Havia centralizado todos os meus problemas na gordura, e a solução deles no emagrecimento, e fazia planos que só iriam se realizar quando eu emagrecesse. Com essa visão, minha vida havia ficado estagnada.
Fiz esse pequeno relato para dizer que emagrecer é algo muito bom, ter um corpo mais leve, ágil e poder vestir as roupas que se quer é maravilhoso. Porém, cuidado com a ilusão de que emagrecendo você terá uma nova vida e será uma outra pessoa. Pode ser que sim, mas também pode ser que não, porque na vida temos várias outras áreas com as quais precisamos lidar. O nosso corpo ou a nossa imagem é apenas uma delas.
Você não precisa resolver toda a sua vida para conseguir emagrecer, mas também não resolverá todos os seus problemas sendo magra. É bom deixar isso claro, assim você fica com os pés no chão e deixa de criar ilusões a respeito do emagrecimento, procura ser feliz hoje, aqui e agora, e emagrece com menos ansiedade e mais tranqüilidade.